quinta-feira, 4 de março de 2010

Não obrigado, sr. Nulli!

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"Caro Aly,

Sou um homem activo da vida artística guineense há bastante tempo.

O seu “post” sobre o projecto PAIC-PALOP e a saída repentina do Dr. Luís Machado surpreendeu-me imenso pelos contornos pouco claros de todo o processo e por conhecer bem esta pessoa tanto do ponto de vista pessoal como profissional.

Para além de ter sido um óptimo Conselheiro Cultural e ter dirigido o Centro Cultural Português, enquanto esteve na Guiné-Bissau, foi também responsável pelos professores do projecto PASEG e pela escola da UCCLA em Bissau. As suas capacidades, conhecimento cultural global, um grande humanismo e sentido estratégico global contribuíram para o bom-nome que deixou na nossa terra em somente 2 anos.

Sei pelas longas conversas que tivemos pela net e depois já aqui em Bissau que ele tinha seguido o projecto PAIC-PALOP quase desde o seu início, tendo ideias concretas relativamente ao mesmo e à sua importância para a aproximação cultural entre os PALOP.

Que lhe seja criticada uma não utilização sistemática das regras ou procedimentos, posso aceitar! Contudo, este é um projecto cultural/artístico! As regras são meros instrumentos para se obter um resultado. São a batuta do maestro, os pincéis e paleta do pintor, o cinzel e picareta do escultor! Mas não há maestros que dirigem sem ela? Não há pintores que pintam com as mãos? Não há escultores que utilizam outros instrumentos e matérias? O importante é conhecer bem o que se faz e, neste caso, o projecto… e não ter só umas ideias avulsas.

Alguns factores, pelas conversas que tenho tido com os “homens da cultura”, se revelam desastrosos em todo este processo:

O Ministério da Cultura da Guiné-Bissau foi manifestamente ignorado num processo onde já havia manifestado uma posição oficial e estava disponível para participar num encontro com todos os intervenientes a fim de esclarecer as posições.

O Secretário de Estado do Tesouro, aparentemente foi mal informado (eu diria, enganado!) sobre o processo e não ouviu a tutela do projecto (Ministério da Cultura) antes de tomar qualquer iniciativa.

O Ministro das Finanças não se apercebeu do mal-estar que lançou entre o seu Ministério (responsável pelos contactos com a União Europeia no que se refere a financiamentos) e o da Cultura (representante de todos os Ministérios da Cultura dos PALOP para este projecto).

A Delegação da União Europeia em Bissau e pese o conhecimento que o seu chefe (Franco Nulli) tem do país, não se apercebeu que, embora “pague” (com ordenados que, ao contrário dos nossos guineenses, nunca se atrasam e chegam a ser 10 vezes maiores!) os funcionários que apoiam o Ministro das Finanças nos vários projectos, não deve exercer pressão, desrespeitando os mais elementares princípios de diplomacia e ética, sobretudo porque são, muitas vezes, jovens inexperientes que vêm junto de funcionários guineenses (que já exerceram altos cargos no nosso país) e que os “encostam” à parede, exigindo isto ou aquilo!

A empresa, que o Dr. Luís Machado representava, ganhou o concurso graças aos curricula dos peritos e com grande peso do dele. Infelizmente, não actuaram em concordância com isto!

Se o Dr. Luís Machado tivesse que ser substituído (eu acho que não!) deveriam ter sido previamente contactados os candidatos que concorreram anteriormente ao projecto e nesse caso a opção deveria ter sido a dos Drs. Daniel Perdigão ou Carlos Vaz, homens da cultura com provas dadas.
Como aparece agora um candidato, licenciado em Direito, para gerir este projecto? Como pôde ser aceite quer pelo Ministério das Finanças quer pela Delegação da União Europeia?

Mais uma vez, o Ministério da Cultura… nem foi ouvido!!!

A saída do Dr. Luís Machado foi/é um duro golpe para a cultura e para o projecto! Ao contrário de muitos jovens inexperientes que têm passado pelas instalações da Delegação da EU em Bissau (sendo, muitas vezes, um mau exemplo da juventude europeia actual pela sua má-criação e falta de humildade) e que foram obrigados a aceitar um posto que lhes deram, ele escolheu, nas 2 vezes que esteve no nosso país, por sua própria vontade, compartilhar a nossa terra. Gosta da Guiné, gosta de África e tem um óptimo conhecimento da alma africana!

Uma grande injustiça que os brancos nos obrigaram a fazer! Dinheiro dado com esta penhora e obrigações…. Não obrigado, Senhor Nulli!

A.E.
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