terça-feira, 8 de fevereiro de 2011

Uma história histórica

"Durante o período de partido único, concretamente após 1980, sendo João Bernardo Vieira, vulgo NINO, Presidente da República, conspirava-se nos bastidores do poder de forma activa e zelosa, a possibilidade de nomear um determinado fulano, para cargo de chefia, pela sua servilidade para com o poder instalado. Na decada de 90, o fulano em questão, passa de simples servidor, para lugar de confiança do Presidente NINO, chegando a existir actos de ciúmes entre os companheiros de armas e o dito fulano, por ser a partir de um determinado momento o HOMEM DE CONFIANÇA.

Dá-se a guerra de 7 de junho em 1998, NINO parte para o exílio, o fulano em questão permanece na Guiné. Concorre ao cargo de Presidente do partido de NINO, ganha e por sequência, concorre as eleições onde consegue uma vitória sem precedentes na nossa história democratica. Nino regressa em 2004 como candidato as presidênciais. É eleito. Começa um novo período da nossa história, que culmina com o discurso do dito fulano em Cabo-Verde, onde afirma que nunca irá coabitar com um General Bandido. Tinha acabado de fazer história por ter advinhado o futuro.

O fulano que foi servil e obediente a NINO, dá-se pelo nome de Carlos Gomes Júnior. Não posso deixar de pensar como tudo seria diferente se a história tivesse conhecido outro rumo: se NINO nunca tivesse conhecido Carlos Gomes Júnior, se Carlos Gomes Júnior nunca fosse presidente do PAIGC e por fim se não tivesse ganho as eleições.
As acções de um indivíduo, por mais ambicioso e versátil que seja, dá-se no entanto, em circunstância histórica precisa. Sem a guerra de 7 de Junho, Carlos Gomes Júnior, não teria ido longe e provavelmente NINO ainda estaria vivo.

Quem lê com cuidado os livros de história sobre as coisas que se passam, descobre sempre que eles podiam não se ter passado assim – o que se torna numa ideia alucinante porque mostra a fragilidade com que se provocam, se decidem os grandes acontecimentos humanos, a facilidade com que ocorrem desastres, a facilidade com que o amigo se transforma em inimigo, a facilidade com que a tolerância se sobrepõem a violência, a estupidez à inteligência.

A história não é um resultado de leis objectivas ou de forças ocultas, mas de actos de pessoas com nome, com rosto que, no meio de cruzamentos de azares e sortes, podem optar entre o mal e o bem, entre o delírio e a sensatez. Se olharmos para África, numa perspectiva de destuição verificadas nas últimas decadas, assistimos por exemplo, o infortúnio do Congo, que depois de sofrer um colonialismo sangrento teve ainda que suportar Mobutu e a boa sorte da África do Sul com Mandela.

Fecho este ensaio, perguntando a mim próprio, que mentalidade se forma para que o crime continue na nossa vida quotidiana, apesar dos avanços democráticos conseguidos, das medidas de solidariedade instituídas, das esperanças entre nós?
Resta risignar-me à minha própria impotência, e reconhecer que a história repete-se.

H. F. P
"