quinta-feira, 15 de dezembro de 2011

1 - «Testemunho» de Filinto Barros: Pós 14 de Novembro

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PREFÁCIO

Vou tentar aproveitar a entrevista... "Testemunho" é uma colectânea de 4 textos, onde dou a conhecer a maneira e a percepção que tive dos acontecimentos em que fui interveniente. Como todas as obras do género, elas são polémicas, por inconclusivas.
Portanto aguardo de todos contribuições altivas por mais polémicas que possam ser. Isto só ajudará o nosso país e cidadãos a ficarem mais esclarecidos.


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Pós 14 de novembro

Por mais volta que queiramos dar, Luis Cabral é um caboverdeano de origem e não devia ocupar o cargo de Presidente (da Guiné-Bissau). O nacionalismo guineense saiu muito confundido com este figurino! Era patente para todos que ninguém lutou para substituir o português pelo caboverdiano

(...) Num outro figurino, um figurino federalista Luis Cabral teria toda a legitimidade de exercer esse cargo. Mas havendo dois Estados separados, o lugar dele na Guiné-Bissau não podia ser o de Presidente! Não vale a pena perder tempo para encontrar documentos que atestam o local de nascimento! Aqui não se trata do jus solo, mas do jus sangue

(...) Se há um responsável pelo golpe (de 14 de novembro), Luis Cabral deve ser apontado, pelo ambiente de intrigas que implantou, tentando inverter as hierarquias saídas da luta

(...) O primeiro sinal veio do III Congresso, onde a Direcção Superior surgiu com oito elementos em vez dos quatro. Nada haveria de assinalar não fosse o facto que dos quatro anteriores, dois continuaram a estar destacado dos demais: secretário-geral e secretário-geral adjunto. Os outros dois, Chico Mendes e 'Nino' Vieira, foram na prática diluídos nos restantes seis! Uma forma inteligente de despromover alguém, fazendo subir os seus inferiores hierárquicos até aqui!

(...) Questionado, a Direcção, pela boca do Luis Cabral, explicou que isso se devia ao facto do Pedro Pires estar a exercer o cargo de primeiro-ministro em Cabo Verde! Ninguém se convenceu com esta explicação extemporânea, tendo ficado claro para todos nós que o alvo era o 'Nino' Vieira. Aristides Pereira estava presente e nada fez para contrariar as 'manobras' do seu adjunto. Pedro Pires, igualmente nada fez para recusar uma medida que na prática iria aumentar o seu prestígio em nada. Esta acção foi muito má e a meu ver esteve na origem da crispação do 'Nino' e dos seus próximos. Ora, 'Nino' detinha na prática todo o comando das forças armadas, não só junto das bases como no seio dos oficiais superiores e intermédios, mesmo que estupidamente estes últimos tenham sido afastados após o 'golpe'.

Continua