segunda-feira, 11 de fevereiro de 2013

O caçador de cabeças


"Difícil foi assistir com indiferença, a frustrada tentativa pela parte do actual Procurador-Geral da República, de em plena luz do dia, vandalizar a reputação de José Mário Vaz, recorrendo a uma acusação duvidosa, com bases na moda dessa esquizofrénica perseguição, aos por agora, órfãos da última liderança deposta. Não falei num suposto ministério público, porque neste momento, esse nem funciona como tal. E por outro lado, estaria a ser muito injusto para com o saldo dos quadros desse grémio, que deveria constituir um prestigiado organismo estatal.

Assim como nos primeiros anos da nossa independência, fomos perseguindo em cada rescaldo de uma determinada substituição dos elementos no poder político, os que no nosso entendimento mesquinho, vão ficando órfãos desse, com falsas desculpas, de que beneficiavam de alguma maneira, com todos os prejuízos, que nos eram impostos pela respectiva cúpula. E em consequência dessas vergonhosas perseguições, vamos contribuindo para o elevado défice de competências, caros ao melhor funcionamento das nossas mais fundamentais instituições, o que inequivocamente, está sim, a prejudicar os interesses de todos nós, sem quaisquer excepções. Tanto assim é, que temos muitos dos mais incapazes compatriotas, a condicionarem de forma desagradável, o nosso quotidiano, e a vaticinarem um conjunto de indefinições, ao futuro dos nossos filhos!

É triste constatar um integral voluntarismo desse fervoroso militante de causas singularizadas, que nas funções de primeiro magistrado do ministério público, e a morrer por dentro, de tanta aversão que leva na alma, ainda encontrar disponibilidade, de optar pela promoção das questiúnculas ocasionais, no lugar de procurar o único caminho para a sua redenção, numa convivência pacífica e próspera, entre todos os guineenses e os seus parceiros, embora de diferentes proveniências, e com interesses diversificados.

Escusado seria mais uma vez lembrar, que só um esforço conjugado, no sentido progressivo, garantirá para todos nós, no primado da lei e da ordem, uma sociedade hierarquicamente estruturada. E nunca essa prática infantil e rancorosa, de cada vez que uns, se sentirem dominadores, lançarem logo no encalece dos outros, desdobrados numas perseguições impiedosas, mantendo assim essas nossas cíclicas conjunturas de insegurança, fragilizadas o suficiente, para um dia, passarem eles também a uma incómoda situação de perseguidos. Mais do que necessário, é mesmo urgente na nossa sociedade, o reflorescimento duma elite governativa, mas meritória. Quero com isto dizer o seguinte:

Devemos avançar como nação, para o reflorescimento de uma elite governativa, que seja tendencialmente livre dos favorecimentos deixados pelas graves iniquidades, parte da herança negativa dos séculos de colonização. Mas também não devemos dispensar a dura verdade de que, a génese dessa pretendida elite governativa, encontrou o seu fecundo modernismo, no cruzamento da nossa cultura política, com a cultura política dos nossos antigos colonos, permitindo com que, os então chefes tribais; mais tarde, os médios e os altos funcionários, ao serviço da administração colonial, ascendentes genealógicos de uns dentre nós, tenham beneficiado de certos privilégios políticos, e vantagens económicas, para com isso, deixarem hoje melhor posicionados, os seus descendentes directos e indirectos. Portanto, devemos ter a coragem patriótica, (porque é de facto, uma questão de coragem patriótica) e permitir que esse reflorescimento de uma elite governativa meritória aconteça, abandonando todos os complexos coloniais; os de superioridade; os de inferioridade; e os outros tantos mais, no nosso subconsciente. Isto é, encararmos com realismo, os fundamentos da tal necessidade do suicido da pequena burguesia, de que Amílcar Lopes Cabral falava, e que ainda muitos, uns por ignorância, outros por negligência, não entenderam.

De nada adiantará essa obsessão de termos que comparar na chegada, a transpirarmos inveja pelos poros todos, se na partida, não saímos em circunstâncias, pelo menos semelhantes. Pois a solução mais adequada para corrigirmos esses desequilíbrios sociais, vindos do passado, que tanto indigna, será, sem que tenhamos de reinventar a lâmpada, apostarmos num sistema de ensino por excelência, premiando e incentivando os melhores estudiosos, sejam eles de que origens, para que esses sim, venham a constituir uma consistente elite governativa, e servirem em igualdade de circunstâncias, como competentes dirigentes, nas nossas diversas instituições públicas e privadas, assim como nas outras instituições regionais e internacionais, das quais somos estado parte. Voltando ao propósito… O princípio da igualdade recomenda tratar questões iguais de forma igual, e tratar questões diferentes de forma diferente.

E o cidadão guineense, João Mário Vaz, sempre fez por merecer um tratamento diferenciado. Sabido que no nosso movediço contexto, o poder, no seu próprio conceito, anda diluindo nas incertezas dos nossos dias, nos registos menores da nossa já martirizada história, ficará mais uns nomes conotados a um consulado figurante, e que de momento, vai servindo levianamente como pretexto, para justificar o conivente reconhecimento regional, de um regime bastante insalubre, para os elevados desígnios de qualquer povo, - que desejo ser mais breve possível - enquanto suporta a impudica distribuição duma vil cobiça.

Mesmo à distância absoluta que me separa dessa empoleirada amostra das piores características, nossas, - entenda-se, guineenses - será sempre desagradável entre nós, o resto de uma necessária convivência cívica. Mas o difícil, normalmente é um pronuncio de óptimos objectivos por alcançar. E gentes de semelhante substância, também servem para nos ajudar a melhorar estratégias de luta, face à persistente paralisação, e por vezes grandes retrocessos, na evolução da nossa sociedade.
 
Ser, Conhecer, Compreender e Partilhar.
 
Flaviano Mindela dos Santos
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