quarta-feira, 27 de março de 2013

Mãe, aqui não...


Guiné-Bissau é o quarto pior país para se ser mãe, diz Save the Children. A conclusão surge no 13° relatório anual da organização, divulgado nos EUA. A Noruega está no topo da lista. A Guiné-Bissau está no fundo, ultrapassada apenas por Níger, Afeganistão e Iémen. Baseado em dados da ONU, o relatório “Estado das Mães do Mundo 2012” foi divulgado por ocasião do Dia da Mãe, lembrado em grande parte dos países do mundo no domingo (13.05). A Save the Children analisou dados de 165 países, divididos em 3 grupos, dos mais aos menos desenvolvidos. A Guiné-Bissau, tal como Angola e Mocambique, foi incluída no conjunto das 42 nações que apresentam os piores indicadores quanto às condições para a maternidade. É mesmo o 4° pior país do mundo para se ser mãe.

A falta de acompanhamento dos partos, segundo Julia Meixner, da Save the Children – Alemanha, é um dos factores que justificam a posição guineense: “A maioria das mulheres, na Guiné-Bissau, continua a ter os filhos em casa, sem qualquer cuidado. Este é um dos principais indicadores que, claro, tem um impacto directo no bem-estar da mãe", explica. À falta de assistência especializada no parto, de acordo com a responsável da Save the Children, junta-se o baixo nível de escolaridade da população da Guiné-Bissau. “O nível de educacão está diretamente ligado à capacidade da mãe de alimentar os seus filhos de forma apropriada. Falamos de amamentação, alimentação complementar nos primeiros 6 meses. E na Guiné-Bissau o nível da educação é bastante baixo”, explica Julia Meixner.

Os dados apresentados pela organização de defesa dos direitos das crianças mostram que a Guiné-Bissau está a braços com um elevado risco de morte materna, de uma para cada 18 partos. Um dado que preocupa Vitor Gongola, do Unicef (Fundo das Nações Unidas para a Infância) em Bissau: “A mortalidade materna é um enorme problema de saúde pública na Guiné-Bissau. Todos os anos, cerca de 600 mulheres morrem no país de causas relacionadas com a gravidez ou o parto. E o pior é que esta tendência não apresenta qualquer progresso desde 1990”, constata.

UNICEF garante apoio apesar do impasse político na Guiné-Bissau

Vítor Gongola garante que o Unicef continua a tentar diminuir o risco da maternidade na Guiné-Bissau, apesar da instabilidade política que se vive no país. “A situação actual tem certamente um impacto no nosso trabalho. Mas as instituições de saúde do país continuam a trabalhar, ainda que a um nível mais reduzido“, diz o responsável, acrescentando que a instituição está a identificar quais são as atividades que o Unicef pode continuar a apoiar. De acordo com Gongola, “a Unicef ajuda o governo a reabilitar instituições de saúde, a fornecer medicamentos e materiais essenciais para o parto e dá apoio à formação dos recursos humanos disponíveis”. Também a Save the Children procura propor soluções para diminuir o risco associado à maternidade na Guiné-Bissau. Julia Meixner frisa que são precisas “mais trabalhadoras na linha da frente da saúde, ou seja, educar as mulheres para serem parteiras, enfermeiras, trabalhadoras comunitárias”.

“É um passo importante que deve ser dado para melhorar a situação de muitas mulheres no país”, explica a responsável, considerando ainda que é preciso também “intervenção imediata, como por exemplo, promover a amamentação”. A organização cita estudos científicos segundo os quais medidas de apoio à amamentação podem salvar um milhão de crianças por ano. O relatório da Save the Children, este ano, especialmente focado na importância da nutrição para a sobrevivência de mães e bebés, indica que 18% das crianças guineenses até aos 5 anos tem um peso moderada ou excessivamente baixo para a idade. O mesmo acontece em Moçambique, sendo que, em Angola, o indicador está nos 16%.

Deutsche Welle
Autora: Maria João Pinto
Edição: António Rocha / Renate Krieger