quarta-feira, 6 de agosto de 2014

USA/ÁFRICA: Um John Kerry embaraçado foi tradutor por uns minutos



INCIDENTES NA CIMEIRA USA ÁFRICA Depois do não de Eduardo dos Santos a Obama, Manuel Vicente embaraça vice John Kerry

O secretário de Estado norte-americano, John Kerry, viu-se obrigado a servir de tradutor do vice-presidente angolano, Manuel Domingos Vicente, depois de este ter resolvido falar em português antes da reunião entre os dois ontem em Washington, à margem da cimeira EUA/África que hoje termina.

“Eu sei que ele fala – estávamos a contar com o seu excelente inglês, que eu sei que fala, mas, basicamente, quer resumir ou quer que eu diga?”, diz o chefe da diplomacia dos Estados Unidos, na transcrição do resumo aberto aos jornalistas que se pode ler no site do Departamento de Estado norte-americano.

“Pode”, responde o vice-presidente angolano, e Kerry, número dois da grande potência do planeta, lá continua: “O resumo mais rápido do mundo é que ele disse que estava muito contente por estar aqui em Washington com o secretário de Estado, muito contente por participar nesta conferência, que tem muita vontade de trabalhar connosco e para a permanente estabilização do continente africano. Falou sobre o crescimento e o aprofundamento e as relações económicas. E acho que este é o resumo rápido”, traduz Kerry.

A seguir pergunta, voltando-se para Manuel Vicente: “Parece-lhe bem?’” Ao que o vice-presidente angolano responde: “Está bem.”

As declarações de Manuel Vicente não eram estratégicas, nem importantes em termos de diplomacia que fosse preciso dizê-las em português para ser mais claro, eram palavras de circunstância antes de uma reunião à porta fechada, talvez por isso o protocolo norte-americano se tenha esquecido de convocar um tradutor.

Não fosse o caso de John Kerry, candidato derrotado à presidência pelo Partido Democrata e 2004, falar português – está até casado há quase 20 anos com uma portuguesa nascida em Moçambique, Maria Teresa Simões Ferreira, mais conhecida por Teresa Heinz Kerry – e o caso teria sido ainda mais embaraçoso.

Antes do embaraço, Kerry soltara elogios para Angola, recordando a sua recente visita ao país e a forma calorosa como foi recebido, aproveitou para agradecer ao presidente José Eduardo dos Santos: “Quero agradecer-lhe e ao governo de Angola pela sua cooperação extraordinária e liderança em relação ao Processo Kimberley [diamantes] e ao processo dos Grandes Lagos, com respeito à República Democrática do Congo, o M23, a FDLR e a forma de tentar resolver a crise de uma vez por todas. A sua liderança tem sido muito, muito importante”.

“O estatuto do presidente Dos Santos, a sua antiguidade na região e a sua liderança têm sido muito, muito importantes para ajudar a estabelecer os princípios que ajudaram a encontrar um caminho para essa crise, um rumo, que toda a gente entende e poderá trazer a paz” para a Região dos Grandes Lagos, acrescentou Kerry.