segunda-feira, 11 de maio de 2015

ORANGE: A resposta do ex-primeiro-ministro de Nino Vieira


"Sou um leitor assiduo do seu blog e sabes que tenho imenso respeito pelo teu trabalho jornalistico que alias espélha um inconformismo, que aprecio: este ultimo caracter é uma qualidade na busca da verdade. A proposito da procura da verdade como diria Gaston Bachelard, um investigador no dominio da filosofia das ciencias, a verdade so se atinge atraves da conquista da objectividade. Esta ultima exige uma certa distancia em relaçao ao objeto que se propoe tratar.

Peço desculpas por essa incursao minha num terreno em que as coisas nao sao visiveis a olho nu. Nao o faço por mera “deformaçao” profissional de investigador mas por necessidade de elucidar ou pelo menos por uma questao da necessidade de compreeensao dos fenomenos que queremos tratar.

Com efeito, o leitor cuja carta publicou sobre a necessidade de intervençoes do ministério publico em relaçao as actividades da empresa “Orange” assim como sobre as chamadas comissoes de que teriam beneficiado o ministro de economia e finanças assim como o primeiro ministro da época, em que se procedeu a realisaçao do concurso que permitiu a atribuiçao do mercado a essa empresa de telecom, so contribui para o discredito da critica das instituiçoes.

Ele nao contribui para o avanço da fiscalisaçao das actividades empresariais no pais ou ainda da acçao dos governantes. A carta de denuncia é anonima, sem traços dos factos, sem indicios que poderiam incitar o ministério publico a investigar ou ainda a levar qualquer cidadao à reflexao produtiva.

A leitura da mesma é paralisante porquanto se assemelha à gesticulaçaoes que nao levam a lado nenhum e que condena à impotencia, todos os que gostariam de ver emerger neste pais uma “massa critica” com capacidade de vigilancia, mas na base de dados bem concretos. Quer dizer, a publicaçao em questao traz uma grande confusao, desconfiança inutil, orienta-se em direçao ao odio dos governantes, sem razao, e nao ajuda a reforçar a credibilidade do seu blog que ja conseguiu algum prestigio.

Tudo passa nessa publicaçao anonima como se o seu autor acusasse alguns cidadaos, ex-governantes neste caso de crime de assassinato sem no entanto dar indicaçoes minimas de traços de sangue e muito menos de existencia de cadaver ou ainda de arma do crime. Onde é que està a distancia para se chegar à objectividade, condiçao necessaria ao alcance da verdade de que falara Bachelard?

Na verdade, o autor do texto da acusaçao nem sequer tem a coragem de assumir a sua produçao que corre fortes riscos de revelar-se pura e simplesmente difamatoria, uma vez tratada pelo ministeri publico. Aposto nisso mas deixo o tempo e a investigaçao dessa instancia julgar. Estou ansioso e d isponivel para colaborar em inqueritos, como sempre. Ja estou habituado à essas gesticulaçoes que alias nao levaram a lado nenhum, em virtude da falsidade ou inexistencia de pistas para se chegar à verdade ou ainda por falta de seriedade daqueles que pretendem fazer denuncias.

Um outro mau serviço que o artigo de “denuncia” presta ao pais reside no facto de ele conduzir ao discredito da actividade critica em relaçao aos maus serviços das empresas e dos governantes. Isso porque a credibilidade da critica social so podera ser essencial na correçao das atuaçoes daqueles que tem funçoes de decisao e de execuçao no pais, quer no sector publico quer no privado, caso sejam ou conduzam a uma pesquiza “laboratorial” de busca de verdade: na base de dados ou pelo menos de traços que conduzam a tal realidade.

A investigaçao nao se compadece com a actividade de “djambacosses” ou “ murrus” que eles funcionam na base de denuncias anonimas e de praticas misticas anti cientificas. No caso que nos interressa, ha que ter como pano de fundo o direito. Ele devera estar no inicio da problematisaçao e no juizo que se fara dos eventuais arguidos, caso se chegue a tal situaçao, segundo os inquéritos e respectiva apreciaçao pelas autoridades competentes e nem mesmo por escribas anonimos.

Enfim, é impossivel chegarmos ao patamar de um Estado com instituiçoes solidas, que hajam na transparencia, com um nivel baixo de corrupçao se a fiscalisaçao popular dos governantes nao se repousar na base de panfletos ou seja sem indicios nenhuns, na base de simples odio e no anonimato injustificado.

Muito obrigado e um abraço esperando pela publicaçao em jeito de direito de resposta

Do amigo Aristides Gomes, Sociologo e ex-Primeiro Ministro"